Os 6 motivos para a melhora do seu paciente e que você nem imagina

 
Exemplo de imagem
Um paciente entra no seu consultório, você o avalia e elabora um plano de tratamento. Logo após a primeira sessão ou depois de algumas sessões você o avalia e nota que ele tem melhorado!

Você pode pensar: “essa intervenção ou essa combinação que eu fiz realmente é demais”. Então a mesma intervenção é realizada nos próximos pacientes que entram no seu consultório. Será que você sabe exatamente o que fez seu paciente melhorar?

Um massagista ou terapeuta que utiliza massagens miofasicais podem afirmar “tem pacientes que chegam com muita dor e saem ao terminar a massagem relatando uma grande melhora”. Eles aprendem que o intuito principal das manobras miofascisais é quebrar aderências dos tecidos ou desatar os nódulos de tensão. Então concluem que o alivio da dor é porque nódulos de tensão foram desatados, por exemplo.

Um quiroprata pode dizer “pacientes entram no meu consultório sem poder virar o pescoço e saem olhando conseguindo olhar seus ombros!” É comum esses profissionais serem ensinados que o principal intuito das manobras articulares é “colocam as articulações no lugar”. Dessa forma vão interpretar a melhora do paciente como resultado de uma articulação que estava “fora do lugar e foi para o lugar certo”.

Um acupunturista pode dizer “um paciente chegou com dor de cabeça e após a colocação de algumas agulhas, a dor desapareceu”. Esses profissionais aprendem que a dor é causada porque alguma energia invisível não está circulando apropriadamente e que o principal intuito da colocação das agulhas é melhorar o fluxo de energia. Dessa forma interpretam a melhora como a energia invisível que começou a circular de forma adequada.

Então quando você coloca esses profissionais aficcionados por suas intervenções dentro de uma mesma sala podem entrar em “guerra” defendendo suas técnicas de acordo com suas experiências.
Para apaziguar essa “guerra” do “o meu é melhor”, pesquisas cientificas de alta qualidade são realizadas. Essas pesquisas tentam (pelo menos deveriam) ser imparciais para retratar de forma mais precisa possível o efeito da intervenção.

E quando você vai ler os ensaios clínicos (pesquisas que comparam o efeito entre intervenções ou com um grupo que não recebeu intervenção) e revisões sistemáticas (que verificam os efeitos que todos os ensaios clínicos obtiveram com essa intervenção) encontramos normalmente efeitos absurdamente pequenos ou ausentes. O efeito total de antes e depois até que é grande, mas quando comparado com o outro grupo torna-se pequeno ou no máximo moderado.

Você acreditaria se eu dissesse que a explicação da melhora desses pacientes não foi porque nódulos foram desatados, ou articulações foram para o lugar ou porque a energia foi desbloqueada? Nenhuma dessas coisas parece acontecer com as intervenções apresentadas.
Mas você pode continuar dizendo: “mas meus pacientes melhoram”!

Eu acredito em você! Meus pacientes também melhoram!
Agora, você já pensou que existem motivos escondidos que fazem seu paciente relatar melhora e você ter a percepção que ele melhorou? Você já pensou que existem Influências que não são consideradas na sua maneira de pensar que fazem o paciente sentir-se melhor?

Veja algumas Influências que normalmente não são consideradas, mas já foram demonstradas influenciar o relato de melhora do paciente em seu consultório ou a sua percepção sobre a melhora do seu paciente:

1 – A dor flutua
A dor de um paciente com dor (mesmo dor crônica), não é estável! O paciente apresenta naturalmente flutuações na sua dor ao longo do dia, da semana, do mês ou do ano. Ora sentindo mais dor, ora menos dor. O ambiente interno do ser humano é como o tempo em São Paulo. Tem região que está chovendo e outra que ao mesmo tempo está sol. E de repente a região que estava sol começa a chover e na que chovia abre-se um arco-íris! Tudo em um curto período de tempo do dia!

2 – O cérebro percebe de forma diferente o grau de ameaça
Uma pessoa com dor de dente, desesperada, liga para um dentista para marcar uma consulta. O dentista diz que não tem vaga para hoje, mas você insistentemente diz que é urgente! Enfim o dentista cede, desmarca dois pacientes da sua agenda para atender você. Ao chegar no consultório, na recepção… você passa a mão na bochecha e de forma estranha tem que se esforçar para achar sua dor. Essa é mais uma influência que pode fazer a dor reduzir mesmo sem uma intervenção. A dor faz você fazer alguma coisa para resolver o problema. Quando você chega na consulta, o seu cérebro entende que pelo menos parte do problema já passou. Você está seguro e vai ser cuidado. Então a ameaça diminui e a dor pode até passar. Mas se neste momento você tomar um remedinho, por exemplo, pode pensar que foi o efeito poderoso do medicamento. Qual é a consequência disso? Você sempre vai recorrer a esse remedinho. Safado esse remedinho! Te enganou direitinho!

3- A expectativa de melhora é poderosa
O quanto o paciente espera que o terapeuta vai ajuda-lo, também pode exercer alguma influencia no tratamento. Você acredita que o formato da aspirina pode influenciar o efeito dela? Pois é, capsulas apresentam melhores efeitos do que tabletes, mesmo quando a dosagem é a mesma! Existem estudos que mostram que pacientes que passam por todas as etapas da cirurgia exceto o procedimento de reparação dos tecidos, apresenta os mesmo resultados do que os pacientes que realmente realizaram a cirurgia (pelo menos em algumas condições de dor). Saber que nosso cérebro tem essa capacidade é demais, não é! Portanto se uma intervenção tem algum ritual, pode aumentar as chances do seu efeito positivo. Qual o problema disso? Nenhum se tivermos consciência que o efeito não é da intervenção, a não ser que a intervenção seja o próprio aumento da expectativa.

4- A intenção do terapeuta
Agora, tem a influencia da percepção do próprio terapeuta sobre o efeito da intervenção. Existem terapeutas mais otimistas e vão conseguir observar detalhes que podem faze-lo entender que o paciente está melhor! E talvez de algum forma pode ficar mais motivado e transbordar isso ao paciente ao ponto de influencia-lo positivamente na melhora. De novo, não existe nenhum mal nisso! Para mim isso é até vantajoso na prática clínica. Eu não gostaria de ser atendido por um terapeuta pessimista!! Já basta algumas pessoas que a gente cruza por aí! Desde que o terapeuta tenha consciência disso, nenhum problema.

5- O terapeuta tende a memorizar coisas que lhe convém
O terapeuta que que seu paciente melhore. Seja porque quer o bem do paciente, seja porque quer sentir que pode ser útil ou ainda para defender alguns interesses como sua “super mega blaster” técnica. Por isso seus olhos vão ficar mais atentos em perceber melhoras. Eu me lembro quando minha esposa estava gravida. Eu saia de carro e via uma gravida atravessando a rua. Entrava na internet e via propaganda de fralda… Nossos interesses e informações prévias influenciam a orientação de nossa atenção.

6- Probabilidade de uma dor intensa reduzir 
Se um paciente relata dor 8 de “0 a 10” a probabilidade dessa dor baixar também maior do que subir! Existem mais números para baixo do que para cima!Também conhecida como “regressão para a media”, naturalmente ao longo do tempo a dor ou nossas funções retornam para uma experiência que não está tão severa e também não está completamente aliviada. Isso acontece praticamente todo o tempo.

Resumindo:
Além dessas influências, existem muitas outras, até mesmo desconhecidas. Se você observar os estudos científicos que testam os efeitos das intervenções, e olhar somente para a diferença do efeito entre a intervenção e o controle, vai ficar decepcionado! A diferença sempre é nula ou mínima! No entanto, se você observar o efeito de uma pessoa antes do tratamento e depois do tratamento de ambas as intervenções, pode ficar mais animado! Por que? Porque as diversas influências combinam-se. Como na clínica! 

Por esses motivos devemos valorizar as evidências cientificas porque tentam reduzir esses influências para entender o efeito isolado de uma intervenção. Mas na clinica devemos usar a nosso favor todos esses fatores porque o que importa de verdade para o paciente é o antes e depois.

Os pesquisadores e os clinicos precisam entender os mecanismos envolvidos em cada intervenção para nos aproximar da verdade dos reais motivos para o efeito de um tratamento. Entendendo os mecanismos podemos testar combinações entre intervenções que se complementam entre si ou são sinérgicas aumentando os resultados. Além de desistir de intervenções que não influenciam os alvos terapêuticos que precisam melhorar.

Agora, o que me chama atenção é que a maior parte desses efeitos observados tanto nas pesquisas quanto na clínica, é fruto do trabalho de quem? Do CÉREBRO! 

Exercício físico alivia dor na coluna lombar antes mesmo de percebermos aumento de força nos músculos e melhora da mobilidade nas articulações! Mais uma vez é o cérebro que está fazendo esse trabalho! 

Aquelas fitas elásticas que você assiste muito nas Olimpíadas apresenta algum alivio na dor na coluna lombar, mas não mais do que se colocarem uma fita de esparadrapo que você compra na farmácia. Talvez elas funcionem… quando comparadas a “nada” colocado na pele! 

A atividade do nosso cérebro está sempre em movimento! Podemos ver um problema de diferentes formas e isso pode mudar totalmente nossa experiência em alguma dimensão. Qual é a diferença entre uma dor no ombro para uma mulher com histórico de câncer de mama e para mim? “Será que o câncer voltou? Pode estar acontecendo metástase!” E mesmo que nada disso estivesse acontecendo, a experiência da dor para ela seria provavelmente bem diferente quando comparada com a minha dor! Tudo indica que é o cérebro o grande protagonista da experiência de uma dor principalmente quando ela se torna crônica.
 
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